RMS TITANIC

RMS TITANIC

sábado, 14 de abril de 2018

O Naufrágio do Titanic

Titanic já havia percorrido mais de 2 500 quilômetros por volta da noite de 14 de abril. Dentre os avisos de gelo recebidos durante o dia estava um do SS Californian. Às 22h55min, o Californian enviou um outro aviso para todos os navios próximos, inclusive para o Titanic. Porém, Jack Phillips interrompeu o operador da outra embarcação e o mandou calar a boca para que pudesse continuar enviando mensagens dos passageiros para o continente. Logo depois disso o operador de rádio do Californian desligou seus equipamentos e foi dormir, já que não era costume manter os operadores trabalhando durante a noite.
Por volta das 23h30min, o Titanic estava viajando a pouco mais de 21,5 nós (41 km/h), com a maioria dos passageiros já estando dormindo ou retirados em suas cabines. Neste momento na ponte de comando estavam de serviço o primeiro oficial Murdoch e o sexto oficial Moody, enquanto na roda do leme estava o quartel-mestre Robert Hichens. No cesto de gávea no mastro principal estavam os vigias Frederick Fleet e Reginald Lee. Era uma noite escura, não havia nuvens nem Lua no céu e a água estava completamente calma; atualmente sabe-se que uma água extremamente calma como aquela encontrada pelo Titanic é um sinal da presença de icebergs por perto, porém isso não era de conhecimento dos marinheiros da época.
Fleet e Lee avistaram um iceberg diretamente na frente do navio à aproximadamente 23h40min. Fleet tocou o sino de alerta três vezes e telefonou para a ponte, informando Moody sobre o gelo. O sexto oficial repassou o aviso para Murdoch, que por sua vez ordenou uma parada total das máquinas e que Hichens virasse a embarcação para bombordo. Houve um atraso antes que quaisquer uma das ordens pudessem entrar em efeito: o mecanismo de manobra demorava até trinta segundos para mover o leme do Titanic, enquanto parar os motores também era uma tarefa que precisava de muito tempo para poder ser realizada.
Titanic começou a virar quase quarenta segundos depois, porém isso não foi suficiente. O iceberg colidiu com o lado estibordo do navio, arranhando seu casco embaixo da linha d'água e fazendo com que pedaços de gelo caíssem nos conveses dianteiros. Murdoch ordenou uma virada para estibordo a fim de mudar o curso da popa e dessa forma evitar que o gelo danificasse toda a extensão do navio, também ativando o fechamento imediato das comportas estanques para tentar conter a água. Smith estava em sua cabine no momento da colisão, porém sentiu a vibração do navio e foi para a ponte, onde Murdoch lhe informou sobre o ocorrido. O capitão ordenou que todas as máquinas fossem desligadas e mandou chamar Thomas Andrews a fim de investigar as avarias.
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Titanic já estava começando a inclinar apenas minutos depois da colisão. Smith e Andrews foram para os conveses inferiores investigar os danos, descobrindo que os depósitos de carga, sala dos correios e quadra de squash já estavam inundadas, enquanto a sala das caldeiras nº 6 já tinha mais de quatro metros de água e a sala nº 5 também já estava começando a ser inundada. Estima-se que aproximadamente sete toneladas de água estavam entrando no navio por segundo, quinze vezes mais do que as bombas eram capazes de expelir. Em apenas 45 minutos, mais de treze mil toneladas de água já tinham entrado na embarcação. Andrews logo percebeu que o Titanic estava condenado; ele e Smith voltaram para a ponte, onde o engenheiro informou os oficiais sobre a situação, aconselhou o lançamento imediato dos botes salva-vidas e estimou que o navio afundaria em pouco mais de uma hora.
O impacto do iceberg havia entortado as placas de aço do casco e causado seis pequenas aberturas, com todas juntas equivalendo a uma área de pouco mais de um metro quadrado de todo o navio. A maior abertura tinha por volta de doze metros de comprimento e aparentemente seguiu a linhas das placas de aço. As placas na parte central do navio eram mantidas unidas por três fileiras de rebites feitos de aço de carbono, porém as placas da proa e popa ficavam presas por duas linhas de rebites feitos com ferro forjado, que segundo especialistas estavam no limite da tensão antes mesmo da colisão. Esse segundo tipo de rebite era mais propenso a sair do lugar em situações de grande tensão, ainda mais sob um frio extremo como na noite em que o Titanic afundou.
Acima da linha d'água, havia pouquíssimos sinais da colisão. Os comissários no salão de jantar da primeira classe haviam sentido um tremor, que eles pensaram ter sido causado pela quebra de uma das lâminas das hélices. Muitos passageiros da primeira e segunda classe sentiram uma batida ou tremor, porém não sabiam do que se tratava. Aqueles nos conveses inferiores, principalmente tripulantes e passageiros da terceira classe perto do local da colisão, sentiram o impacto da batida bem mais diretamente.
Às 0h05min já do dia 15 de abril, Smith deu ordem para que os botes fossem preparados e os passageiros acordados. Ele ordenou que Phillips e Bride começassem a enviar pedidos de socorro, que erroneamente direcionaram os navios de resgate para uma posição 21 km distante de onde o Titanic realmente estava. Os comissários de bordo logo foram bater de porta em porta chamando os passageiros e pedindo para que eles fossem para o convés dos botes. O tratamento recebido dependia da posição social; os comissários da primeira classe cuidavam cada um de apenas algumas cabines, então eles podiam ajudar os passageiros a se vestirem e irem para o convés, enquanto os comissários da segunda e terceira classe tinham de percorrer várias cabines rapidamente, rudemente acordar os passageiros e mandá-los colocarem coletes salva-vidas. Apesar das ordens, muitos passageiros e tripulantes estavam relutantes em atender os pedidos, por não acreditarem que o Titanic estava em perigo ou por não quererem sair no frio da noite. Não foi dito que o navio estava afundando, porém algumas pessoas perceberam que ele estava inclinando.
No convés a tripulação iniciou o preparo dos botes, porém era difícil ouvir qualquer coisa devido ao barulho do vapor das caldeiras que estava sendo evacuado pelas chaminés. O som era tão alto que tiveram que usar sinais de mão para se comunicarem. Além disso, eles estavam mal preparados para uma emergência já que o treinamento com botes havia sido mínimo. Esses barcos supostamente estariam com suprimentos de emergência, porém muitos passageiros posteriormente descobriram que tinham recebido apenas provisões parciais, apesar dos esforços do padeiro chefe Charles Joughin e sua equipe. Nenhum exercício de emergência havia sido realizado no Titanic desde sua partida de Southampton. Tudo isso foi piorado pela aparente indecisão, insegurança e paralisia de Smith, que falhou em dar certas ordens, não organizou a tripulação e negligenciou informações cruciais sobre a real situação do navio.
O ângulo do Titanic começou a aumentar rapidamente por volta dàs 2h15min já que a água estava entrando em partes anteriormente intactas através de escotilhas abertas. O aumento súbito do ângulo criou uma onda que varreu a parte dianteira do convés dos botes, jogando várias pessoas na água. Aqueles que estavam tentando lançar os botes desmontáveis A e B também foram levados pela onda junto com os barcos. A popa do navio se ergueu no ar enquanto a proa ficou totalmente submersa, com sobreviventes afirmando terem ouvido um enorme estrondo vindo de dentro da embarcação. Após mais um minuto as luzes do Titanic piscaram e se apagaram completamente, deixando todos na escuridão.
O navio estava sendo sujeito a forças opostas extremas – a proa inundada puxando-o para baixo enquanto o ar dentro da popa o mantinha na superfície – que se concentraram em uma das áreas mais fracas da superestrutura, a área perto da junta de expansão traseira. O navio se partiu em dois perto da terceira chaminé pouco depois das luzes terem se apagado. A proa permaneceu ligada com a popa pela quilha durante um curto período, puxando a segunda parte até um ângulo bem alto antes de se soltar, deixando a popa flutuando. Ela balançou enquanto vários compartimentos eram inundados até chegar a uma posição quase vertical, onde permaneceu por alguns momentos. O Titanic finalmente afundou por completo à aproximadamente 2h20min, duas horas e quarenta minutos depois da colisão.
Imediatamente em seguida, centenas de passageiros e tripulantes foram deixados para morrer no mar congelante, cercados por destroços que tinham se desprendido do navio e passaram a ser usados como boias. Algumas das pessoas morreram quase instantaneamente de um infarto agudo do miocárdio causado pelo repentino estresse no sistema cardiovascular. Outros progrediram pelos sintomas clássicos de hipotermia: primeiro tremores extremos pelo corpo, seguido pela diminuição e enfraquecimento dos batimentos cardíacos até a perda de consciência e por fim a morte.
Aqueles nos botes ficaram horrorizados pelo som das pessoas gritando e pedindo ajuda; o terceiro oficial Pitman no bote nº 5 mais tarde afirmaria que os gritos o traumatizaram pelo restante da vida. Muitos ocupantes debateram se deveriam voltar e resgatar os náufragos. Alguns botes que estavam perto do navio na hora do naufrágio conseguiram pegar algumas pessoas, como o nº 4 e o desmontável D. Em todos os outros os sobreviventes decidiram contra o retorno, provavelmente pelo medo de que os náufragos emborcassem os barcos. O único a voltar foi o nº 14 do quinto oficial Lowe, que transferiu os ocupantes de seu bote para outros dois e partiu em busca de sobreviventes, eventualmente resgatando cinco pessoas que tinham conseguido permanecer fora da água congelante.
Depois disso havia muito pouco o que os sobreviventes pudessem fazer além de esperar pelo resgate. O ar estava frio e muitos barcos tinham feito água. Os ocupantes não encontraram comida ou bebidas nos botes, com a maioria não tendo nenhuma fonte de luz. A situação era particularmente ruim no desmontável B, que havia emborcado e estava flutuando com mais de trinta pessoas em cima, dentre eles Lightoller e Bride.
Bote número "6" se aproximando do Carpathia
Os sobreviventes do Titanic finalmente foram resgatados a partir dàs 4h00min da manhã do dia 15 de abril pelo Carpathia, que havia corrido durante a noite em máxima velocidade e a um risco considerável, já que ele teve de desviar de vários icebergs no caminho. As luzes do navio de resgate haviam sido avistadas pela primeira vez às 3h30min, porém demorou muitas horas para que todos fossem recolhidos. Os homens do desmontável B conseguiram ser pegos por outros dois botes, porém um acabou morrendo antes deles chegarem no Carpathia. No desmontável A, mais da metade havia morrido durante a noite, e pela manhã os restantes também conseguiram embarcar em outro bote.
Os sobreviventes foram levados a bordo do Carpathia por diferentes meios. Alguns foram fortes o bastante para subirem uma escada de cordas até o convés, enquanto aqueles que estavam fracos e as crianças foram içados por cordas e sacos. O último bote resgatado foi o nº 12, que estava com 74 pessoas a bordo. Todos os sobreviventes já estavam no Carpathia por volta das 9h00min. Houve algumas cenas de alegria quando certas famílias e amigos se reencontraram, porém para a maioria a tristeza tomava conta com o final das esperanças de que entes queridos aparecessem.
Outros dois navios apareceram às 9h15min: o SS Mount Temple e o Californian, que durante a noite havia avistado um outro navio ao longe disparando fogos de artifício, porém seu operador de rádio havia desligado seus equipamentos e ido dormir, enquanto a tripulação ficou confusa sobre o significado dos fogos. O Carpathia estava originalmente indo para Fiume na Áustria-Hungria, porém já que ele não tinha meios de cuidar de todos os sobreviventes, o capitão Arthur Rostron mandou que sua embarcação virasse e voltasse para Nova Iorque onde todos poderiam receber os devidos cuidados.
Por décadas se acreditou que o Titanic tinha afundando inteiro e, através dos anos, vários planos surgiram para levantá-lo do fundo do mar. Nenhum virou realidade. O problema fundamental era a extrema dificuldade de se encontrar e alcançar destroços que estão a quase quatro quilômetros da superfície em um local onde a pressão da água pode matar em menos de um segundo. Várias expedições foram organizadas para encontrar o navio através das décadas, porém ele só foi encontrado em 1 de setembro de 1985 por uma expedição franco-americana liderada por Robert Ballard.
A equipe descobriu que o Titanic tinha se partido em dois antes de afundar até o fundo do oceano. A proa e popa separadas estão a oitocentos metros de distância uma da outra em um desfiladeiro na plataforma continental, 650 quilômetros ao sudeste de Terra Nova. Eles estão localizados a 21 quilômetros de distância das coordenadas calculadas pelo quarto oficial Boxhall e enviadas pelos operadores de rádio do Titanic durante o naufrágio.
Ambas as seções atingiram o fundo oceânico em alta velocidade, fazendo com que a proa se amassasse e a popa desmoronasse completamente. A proa é a parte mais bem conservada e ainda contém um grande número de interiores intactos. Em contraste, a popa está completamente destruída; seus conveses ruíram em cima um do outro e grande parte das placas de aço do casco foram arrancadas e estão jogadas pelo chão. A destruição muito maior da popa provavelmente foi causada pelos danos estruturais que ocorreram durante o naufrágio. Assim, o restante da popa foi achatada ao atingir o fundo.
As duas seções estão cercadas por um campo de detritos de aproximadamente 8 km por 4,8 km. Ele contém milhares de itens, como pedaços da embarcação, mobílias, louças e artefatos pessoais que caíram do navio enquanto ele afundava ou que foram expelidos para fora quando ele atingiu o fundo do mar. O campo de detritos também é o local de descanso final de várias das vítimas do Titanic. A maioria dos corpos e roupas foram consumidos por bactérias e criaturas marinhas, deixando apenas pares de sapatos como o único sinal de que corpos uma vez estiveram ali.
Os destroços do Titanic tem sido visitados por vários times de exploradores, cientistas, cineastas e turistas, com centenas de itens tendo sido retirados para conservação e exibição pública. A condição do navio tem deteriorado significantemente nos últimos anos, parcialmente devido a danos acidentais causados por submarinos mas principalmente por causa da acelerada taxa de crescimento de uma bactéria comedora de ferro que vive no casco. Estima-se que todo o casco irá desmoronar nos próximos cinquenta anos, eventualmente deixando apenas seus objetos mais resistentes como as hélices de bronze, enquanto o resto vai se transformar em uma grande pilha de ferrugem.
Em seu centenário os restos do navio se enquadraram no escopo da Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático. Isso significa que todos os países que assinaram a convenção proíbem a pilhagem, exploração comercial, venda e dispersão dos destroços e seus artefatos. Já que o Titanic está em águas internacionais e não há nenhuma jurisdição exclusiva sobre a área dos destroços, a convenção proporciona um sistema de cooperação em que os países informam uns aos outros sobre potenciais atividades relacionados ao navio, também cooperando para impedir intervenções não-científicas e antiéticas.
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"RMS Titanic - 106 Anos de História"

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